Em setembro comemoramos o mês da Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante. Neste momento se intensificam as campanhas de incentivo à doação em todo o País
Atualmente, 32 mil brasileiros aguardam na lista de espera para transplante. Desse total, mais 13 mil pessoas estão no Estado de São Paulo. Segundo informações da ABTO – Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, a lista de espera por um órgão está distribuída da seguinte forma: 2.511 pessoas para córnea, 95 para coração, 717 para fígado, 112 para pulmão, 17 pâncreas e 9.271 para rim e o restante para outros órgãos ou tecidos (dados de julho de 2015).
Objetivando incentivar a doação de órgãos e tecidos, além de esclarecer as principais dúvidas da população sobre transplante, a Comissão Intra-Hospitalar de Transplante (CIHT) da Santa Casa de Itapeva realizará atividades a fim de divulgar, informar e esclarecer sobre esse processo, durante a semana de 8 a 11 de setembro.
Sobre esse assunto, Dra. Valéria Moreira, médica intensivista e responsável pela UTI Adulto da Santa Casa de Itapeva, também Coordenadora da CIHT, explica como funciona esse processo.
– Quem são os potenciais doadores de órgãos?
Dra. Valéria: Pessoas vivas podem doar rim e medula óssea para alguém que tenha compatibilidade com o doador. Em outros casos, apenas doadores falecidos. Costumamos dizer que a morte é uma só, porém pode ser por parada cardíaca (quando o coração para de funcionar) ou encefálica (quando o cérebro para de funcionar). Na morte encefálica, os órgãos permanecem funcionando por algum tempo, o que aumenta a chance de realizar a captação dos órgãos saudáveis.
– Qual é o fluxo da captação de órgãos hoje em Itapeva?
Dra. Valéria: O protocolo é nacional, coordenado pelo Ministério da Saúde e Conselho Federal de Medicina. O processo, em geral, começa quando uma pessoa tem o diagnóstico de morte encefálica em uma Unidade de Terapia Intensiva. Essa ocorrência é informada para uma Organização de Procura de Órgãos (OPO). Nestas circunstâncias tem-se um “potencial doador”, ou seja, uma pessoa morta, em condições físicas de ser doador porque a vitalidade dos órgãos está sendo mantida com a ajuda de respiração artificial e uso de medicamento.
O diagnóstico de morte encefálica é feito por exames clínicos realizados por dois médicos, com intervalo de seis horas entre eles. Para confirmar os diagnósticos clínicos é feito um exame complementar com aparelhos, conforme exigência da lei. Confirmado o diagnóstico de morte, uma equipe da comissão Intra-hospitalar de transplantes faz uma entrevista com a família para solicitar a doação de órgãos. Caso a família não concorde com a doação, o médico intensivista suspende todo o tratamento de manutenção dos órgãos e o corpo é entregue para as formalidades e cerimonial de sepultamento.
Caso haja autorização para doação, o médico intensivista será o responsável pela manutenção do potencial doador até que ocorra a retirada dos órgãos. São realizados uma série de exames laboratoriais para avaliar a viabilidade do doador e da compatibilidade com os possíveis receptores em lista de espera. Se a morte ocorreu por cessação das funções neurológicas, é mantida a função respiratória e cardíaca por meios artificiais, tem-se um doador de órgãos e tecidos. Se a morte ocorreu por parada cardiorrespiratória o doador é apenas de tecidos (córneas, ossos, etc.), que podem ser retirados até seis horas após o óbito.
A identificação e seleção dos receptores é feita com bases em critérios muito rígidos que consideram, especialmente, a compatibilidade (a identidade biológica entre doador e receptor) e o grau de urgência em que se encontra o receptor.
– Para ser doador, basta a pessoa ter manifestado seu desejo em vida?
Dra. Valéria: Não, é muito importante que a pessoa manifeste o desejo de doar seus órgãos em vida e comunique seus familiares, mas para existir a doação é necessário que os familiares consintam. A captação somente pode ser feita com o consentimento de parentes de primeiro grau ou cônjuge.
– Os órgãos captados aqui vão para onde?
Dra. Valéria: Essa parte é de responsabilidade da Central de Transplantes. Quando notificamos um possível doador na Santa Casa de Itapeva, é essa equipe que vai tentar identificar uma possível compatibilidade entre as pessoas que estão aguardando na fila de transplantes com o doador. A OPO Regional é notificada e aciona a Central Estadual que se mobilizará para captação dos órgão aqui na Santa Casa. A lista de espera é nacional.
– Como é feita a seleção dos receptores? Quem coordena o processo?
Dra. Valéria: O sistema de captação e doação de órgãos no Brasil obedece a regras rígidas dentro das instituições de saúde. Os pacientes da fila de transplantes são classificados de acordo com grupo sanguíneo, peso, idade e altura do doador, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Outro fator levado em consideração é o tempo de espera: quem chegou primeiro e tem compatibilidade com o doador, recebe o órgão. O Sistema Estadual de Transplantes da Secretaria de Saúde coordena o processo de distribuição de órgãos coletados nos hospitais, tanto públicos como privados.
– A Santa Casa faz os transplantes ou apenas realiza a captação dos órgãos?
Dra. Valéria: Não. Aqui na Santa Casa não realizamos os transplantes, somente as captações, que são realizadas por equipes externas. A Santa Casa cede o Centro Cirúrgico. Depois disso, o corpo é entregue à família.
– Existe um histórico de quantos órgãos já foram captados na Santa Casa?
Dra. Valéria: Iniciamos o processo de doação em 2013. Desde então, já tivemos 13 doadores.