Fevereiro Roxo: Doença de Alzheimer – Desafios

 

 

Por Dra. Cecília Machado

Médica pela UFSC e PG Geriatria Clínica pela UP/PUCRS

 

A doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, é a forma mais comum de demência, devido à sua natureza neurodegenerativa e progressiva. Ela é caracterizada por uma série de sintomas, incluindo perda de  memória,  dificuldades  de  linguagem,  problemas  de percepção   espacial   e   alterações   de   personalidade.   No entanto, apesar   de   sua prevalência,   o   diagnóstico   da   doença   de   Alzheimer   continua   sendo   um   desafio significativo  na  medicina  moderna e  com  o envelhecimento  global  da população  tem levado a um aumento significativo na prevalência desta condição, tornando urgente a necessidade  de  avanços  diagnósticos  que  permitam  intervenções  mais  eficazes  e personalizadas.

O diagnóstico da DA é complicado, e muita das vezes os pacientes sofrem comum subdiagnóstico pela difícil identificação de sintomas iniciais. O diagnóstico é baseado em sintomas clínicos observados pelo paciente ou pelos familiares, em testes neuropsicológicos  como  o  Mini-Exame  do  Estado  Mental  (MEEM)  e  em  exames  de imagem, como a ressonância magnética. Nos últimos anos, os critérios diagnósticos para DA passaram a incluir e valorizar cada vez mais uso de biomarcadores. Estes também se tornam cada vez mais disponíveis, porem neste momento ainda uma realizada pouco disponível na pratica clinica devido ao custo elevado e disponibilidade somente em grandes centros.

A DA é dividida em três estágios clínicos: leve, moderado e grave. No estágio leve, os sintomas incluem problemas de memória e dificuldade cognitiva. No estágio moderado, os sintomas cognitivos pioram e podem surgir sintomas neuropsiquiátricos, como delírios e alucinações.  No estágio grave, o paciente se  torna  totalmente  dependente  e  há  uma  redução  global  nas  funções cognitivas.

O tratamento da doença de Alzheimer tem evoluído nos últimos anos, passando de uma abordagem focada na descrição dos sintomas para um enfoque mais amplo que busca tratar as causas subjacentes da doença.  Uma das abordagens mais promissoras envolve o uso de anticorpos monoclonais para direcionar as  placas  de  beta-amiloide  no  cérebro,  como  o  aducanumabe  e  o lecanemabe,  aprovados  pela  Food  and  Drug  Administration  (FDA)  em  2021  e  2023, respectivamente. Esses medicamentos têm esperança para a redução da acumulação de placas,  considerando  o  principal  mecanismo  patológico  da  doença. Esses avanços   representam   uma   mudança   significativa   no   paradigma   de tratamento da doença de Alzheimer, com a busca não apenas pelo surto dos sintomas, mas  também  pela  abordagem  das  causas  fundamentais  da  doença.

Estes tratamentos ainda são uma realidade distante e disponível para estágios precoces da doença. Após a instalação dos sintomas moderados e graves não há opções de tratamento para reversão da doença, disponíveis somente medicações para melhorar e controlar os sintomas.

Diante de uma doença neurodegenerativa, progressiva e sem tratamento definitivo que controle o avanço da doença é importante que o familiar/cuidador saiba compreender e manejar que a assistência à pessoa idosa com DA,  relacionada, entre outros fatores, à manutenção da segurança física e a redução da ansiedade e agitação.

Na fase inicial da DA, o processo de cuidado envolve, principalmente, a supervisão visando à prevenção de acidentes pela dificuldade em discernir situações de risco. Reconhece-se que as pessoas idosas com DA rejeitam o novo e não se adaptam facilmente as novas condições. Dessa forma, denota-se que forçar atividades desconhecidas poderá acarretar situações de irritabilidade. Por conta disso, salienta-se a necessidade de trabalhar com a singularidade de cada pessoa idosa com DA, valorizando e reconhecendo seus hábitos, a sua cultura e sua história de vida.

Outro fator importante é a necessidade de estratégias de cuidado voltadas aos cuidadores, pois cuidar de uma pessoa idosa com DA é uma tarefa que exige muito do cuidador e torna-se difícil para todos, sejam familiares ou não. O familiar/cuidador, ao se dedicar integralmente à pessoa idosa com DA, pode se tornar estressado, cansado, física e mentalmente, o que tende a piorar se ele estiver sozinho, sem a ajuda de outras pessoas.

Estudos têm demonstrado que uma das dificuldades encontradas no cuidado às pessoas idosas com DA é justamente o cuidado sem o revezamento. Cuidar de uma pessoa idosa com DA vai além da vontade de querer cuidar, em decorrência da complexidade que o cuidado exige, envolve conhecimento, desenvolvimento de habilidades, iniciativas que exigem paciência, amor e, algumas vezes, renúncia de seu projeto de vida. Esses fatos contribuem para que os familiares/cuidadores vivenciem sobrecarga física, emocional e social no cotidiano de cuidados.

Apesar dos avanços e estudos que ainda estão em andamento, a DA ainda e um desafio a ciência médica e aos familiares que precisam manter o cuidado a esses pacientes. O conhecimento sobre a doença e sua evolução e dedicação neste cuidado é que proporcionam um tratamento e cuidado dignos aos idosos com DA.