Por Dra. Cecília Machado
Médica pela UFSC e PG Geriatria Clínica pela UP/PUCRS
A doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, é a forma mais comum de demência, devido à sua natureza neurodegenerativa e progressiva. Ela é caracterizada por uma série de sintomas, incluindo perda de memória, dificuldades de linguagem, problemas de percepção espacial e alterações de personalidade. No entanto, apesar de sua prevalência, o diagnóstico da doença de Alzheimer continua sendo um desafio significativo na medicina moderna e com o envelhecimento global da população tem levado a um aumento significativo na prevalência desta condição, tornando urgente a necessidade de avanços diagnósticos que permitam intervenções mais eficazes e personalizadas.
O diagnóstico da DA é complicado, e muita das vezes os pacientes sofrem comum subdiagnóstico pela difícil identificação de sintomas iniciais. O diagnóstico é baseado em sintomas clínicos observados pelo paciente ou pelos familiares, em testes neuropsicológicos como o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) e em exames de imagem, como a ressonância magnética. Nos últimos anos, os critérios diagnósticos para DA passaram a incluir e valorizar cada vez mais uso de biomarcadores. Estes também se tornam cada vez mais disponíveis, porem neste momento ainda uma realizada pouco disponível na pratica clinica devido ao custo elevado e disponibilidade somente em grandes centros.
A DA é dividida em três estágios clínicos: leve, moderado e grave. No estágio leve, os sintomas incluem problemas de memória e dificuldade cognitiva. No estágio moderado, os sintomas cognitivos pioram e podem surgir sintomas neuropsiquiátricos, como delírios e alucinações. No estágio grave, o paciente se torna totalmente dependente e há uma redução global nas funções cognitivas.
O tratamento da doença de Alzheimer tem evoluído nos últimos anos, passando de uma abordagem focada na descrição dos sintomas para um enfoque mais amplo que busca tratar as causas subjacentes da doença. Uma das abordagens mais promissoras envolve o uso de anticorpos monoclonais para direcionar as placas de beta-amiloide no cérebro, como o aducanumabe e o lecanemabe, aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) em 2021 e 2023, respectivamente. Esses medicamentos têm esperança para a redução da acumulação de placas, considerando o principal mecanismo patológico da doença. Esses avanços representam uma mudança significativa no paradigma de tratamento da doença de Alzheimer, com a busca não apenas pelo surto dos sintomas, mas também pela abordagem das causas fundamentais da doença.
Estes tratamentos ainda são uma realidade distante e disponível para estágios precoces da doença. Após a instalação dos sintomas moderados e graves não há opções de tratamento para reversão da doença, disponíveis somente medicações para melhorar e controlar os sintomas.
Diante de uma doença neurodegenerativa, progressiva e sem tratamento definitivo que controle o avanço da doença é importante que o familiar/cuidador saiba compreender e manejar que a assistência à pessoa idosa com DA, relacionada, entre outros fatores, à manutenção da segurança física e a redução da ansiedade e agitação.
Na fase inicial da DA, o processo de cuidado envolve, principalmente, a supervisão visando à prevenção de acidentes pela dificuldade em discernir situações de risco. Reconhece-se que as pessoas idosas com DA rejeitam o novo e não se adaptam facilmente as novas condições. Dessa forma, denota-se que forçar atividades desconhecidas poderá acarretar situações de irritabilidade. Por conta disso, salienta-se a necessidade de trabalhar com a singularidade de cada pessoa idosa com DA, valorizando e reconhecendo seus hábitos, a sua cultura e sua história de vida.
Outro fator importante é a necessidade de estratégias de cuidado voltadas aos cuidadores, pois cuidar de uma pessoa idosa com DA é uma tarefa que exige muito do cuidador e torna-se difícil para todos, sejam familiares ou não. O familiar/cuidador, ao se dedicar integralmente à pessoa idosa com DA, pode se tornar estressado, cansado, física e mentalmente, o que tende a piorar se ele estiver sozinho, sem a ajuda de outras pessoas.
Estudos têm demonstrado que uma das dificuldades encontradas no cuidado às pessoas idosas com DA é justamente o cuidado sem o revezamento. Cuidar de uma pessoa idosa com DA vai além da vontade de querer cuidar, em decorrência da complexidade que o cuidado exige, envolve conhecimento, desenvolvimento de habilidades, iniciativas que exigem paciência, amor e, algumas vezes, renúncia de seu projeto de vida. Esses fatos contribuem para que os familiares/cuidadores vivenciem sobrecarga física, emocional e social no cotidiano de cuidados.
Apesar dos avanços e estudos que ainda estão em andamento, a DA ainda e um desafio a ciência médica e aos familiares que precisam manter o cuidado a esses pacientes. O conhecimento sobre a doença e sua evolução e dedicação neste cuidado é que proporcionam um tratamento e cuidado dignos aos idosos com DA.